quarta-feira, 24 de março de 2010

A população tem que saber mais sobre o que acontece na área pública

A propósito de uma das discussões da reunião de ontem no GT da CS da AL, num outro GT (da UFRGS) emergiu o mesmo assunto e com comentários importantes do Professor Miguel Aloysio Sattler que transcrevo abaixo como contribuição e reforço para que o discurso se transforme em ação.
AA
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Uma colocação sobre o que a Maria Inês coloca em seu comentário que é:
 
A população tem que saber mais sobre o que acontece na área pública.
Eu, ontem, coordenei um painel em um Forum Internacional sobre Gestão Ambiental, que teve como título: Água, o grande desafio. Eu havia indicado um professor norte americanano, da universidade de Michigan, que havia já conhecido em outro evento, em São Paulo. No final, o professor falou através de uma teleconferência, pois estava com o Visa vencido e não pode embarcar. Mas eu pretendia interagir com ele mais profundamente, e fazer com o que o público daqui conhecesse melhor o seu trabalho, que é o de uso de sistemas naturais e vegetação e águas residuárias (esgotos para ser mais claro).
 
O que me preocupa, e que deveria preocupar a TODA a população, mas principalmente à área da saúde, é o que estamos fazendo com a NOSSA água (aí até em termos planetário), com uma total irresponsabilidade de quem produz a nossa QUÍMICA atual (as grandes multinacionais e mesmo os pequenos laboratórios), a conivência de nossos gestores, e a falta de conhecimento de nossa população (mesmo a mais qualificada, supostamente, dentro de nossas universidades).
 
Se vocês observarem o que é o nosso tratamento de água, hoje em dia, vão notar que ele é feito da mesma maneira, usando processos que datam de mais de 50 anos, isto é, desde antes da Segunda Guerra Mundial. Então os sistemas convencionais de tratamento simplesmente decantam os sólidos em suspensão (processo que é acelerado por sulfato de alumínio) e depois disso a água é simplesmente feita passar por leitos filtrantes de areia e brita. Ou seja, não há qualquer técnica que remova TUDO o que tem origem em nossas contribuições domésticas aos esgotos: remédios usados ou vencidos, óleo de cozinha, produtos de limpeza doméstica, hormônios, antibióticos e tudo o mais que passa para a nossa urina. A isso, ainda nas cidades, se somam os esgotos de TODOS os ambulatórios, clínicas veterinárias, consultórios odontológicos, parte dos LABORATÓRIOS DAS UNIVERSIDADES e escolas, etc. etc.. A isso se somam todos os efluentes industriais, metais pesados e outros; e TODOS os insumos de nossa agricultura, em termos de agrotóxicos e fertilizantes. 
 
GENTE: NÓS somos quase 70% ÁGUA. Nós somos o que vem do Guaíba! Não temos mais de 27% de nosso esgoto tratado e esses tratamentos NÃO REMOVEM os produtos químicos acima! E eles ocorrem aos milhares! Gente da área de saneamento alerta a respeito, gente da reputação do Prof. Aldo Rebouças, da USP, já há mais de década. E nada é feito a respeito. O mais que é feito é SILENCIAR para não causar PÂNICO na população. Tentem, pois, obter os resultados de uma análise de águas TRATADAS pelo DMAE ou CORSAN, como eu tenho feito há anos com meus alunos de graduação e da pós, para comparar com os níveis ADMISSÍVEIS MÁXIMOS constantes em normas brasileiras ou internacionais. Ninguém tem acesso a isso. E isso deveria ser de domínio PÚBLICO. Somos nós quem paga por este tratamento. Somos nós quem pagamos pelos serviços públicos de saúde. Somos nós quem mantemos os nossos representantes no governo e em todas as instituições públicas (inclusive DMAE e CORSAN) que deveriam estar cuidando da saúde do seu povo.
 
O que o Christopher que eu tentei trazer para Porto Alegre faz é usar uma SUCESSÃO  de filtros, além dos convencionais, que retiram os conteúdos mais brutos (colchões, sofás, pedras, e por aí afora), processos de digestão do lodo sedimentado, e filtragem, OUTROS PROCESSOS contando com o auxílio de uma CADEIA VIVA, que inclui, além das bactérias, muitos outros microorganismos, crustáceos, algas, peixes e PLANTAS. Isso já é implementado em locais nos Estados Unidos e outros países. Mas ALÉM DISSO haveria a necessidade de educação de TODA A POPULAÇÃO, para mudança de hábitos, uma MUDANÇA DE CULTURA, onde as pessoas fossem educadas e conscientizadas sobre O QUE USAR e dos limites da capacidade de DEPURAÇÃO por estes próprios sistemas.
 
Há SOLUÇÃO? Conseguiremos mudar ISSO TUDO A TEMPO? Não sei... Temos procurado educar engenheiros e arquitetos e ministrar inúmeras palestras não só nesta área, mas sobre tudo o que nossas classes profissionais determinam em termos de ameaças a VIDA DE TODOS. E concordo com quem diz que NÃO TEMOS DIREITO DE NÃO TER ESPERANÇA...
 
Abraços,
 
Miguel Sattler

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